Saúde indígena, Meio Ambiente e Saúde Pública, Assistência à saúde, População, Garimpeiros, Massacre
Resumo
A mortalidade resultante de invasões da Terra Indígena Yanomami (TIY) por garimpeiros, cujo evento mais conhecido foi o massacre de Haximu em 1993, deixou uma marca clara na estrutura demográfica da população indígena. A dinâmica populacional Yanomami dos últimos vinte anos, no tempo e no espaço, está também correlacionada com o estabelecimento de missões religiosas e de postos de saúde. A demografia das comunidades e grupos populacionais Yanomami foi avaliada em quatro épocas com intervalos de sete anos entre eles (para os biênios 1987-1988, 1994-1995, 2001-2002 e 2008-2009) e os dados foram espacializados em um sistema de informações geográficas (SIG), obtendo uma regionalização da TIY baseados em dados altitudinais (serra e terras baixas), bacia hidrográfica, e em dados linguísticos e interculturais. O estudo demonstrou o crescimento da população yanomami em todas as regiões da TIY, dobrando em vinte anos. O crescimento foi menor no primeiro intervalo e estabilizou nos outros dois. O primeiro intervalo se correlaciona com a influência garimpeira sobre a Terra Indígena Yanomami. O estudo demonstrou uma distribuição da população em duas configurações distintas: um pequeno número de comunidades sedentárias populosas (mais de 10% da população em apenas quatro entre 265 comunidades) e uma maioria de comunidades menores, com mobilidade. Foi regionalizada essa configuração em quatro setores: 1) Serra Parima, uma região com população concentrada, com mobilidade; 2) Colinas de Roraima, uma região sob pressão das frentes pioneiras, fazendas, assentamentos e garimpos, 3) Terras baixas do Demini, uma região que foi afetada no passado pela construção da Rodovia Perimetral Norte, e 4) Terras baixas do estado do Amazonas, uma região de contato mais antigo e que possui as comunidades mais sedentárias. A assistência à saúde, por meio do estabelecimento de postos, garantiu o crescimento da população Yanomami, mas esta manteve sua mobilidade residencial, especialmente na serra. O estabelecimento de missões religiosas contribuiu para a formação de algumas grandes comunidades sedentárias em áreas de terras baixas, mas não impediu a mobilidade sem mudança de residência. A mortalidade devido à invasão da área por garimpeiros entre 1986 e 1999 explica distribuições etárias anômalas nos locais mais afetados.
Biografia do Autor
Maurice Seiji Tomioka Nilsson
Mestre em Ecologia (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), 2010), doutorando no Programa Humanidades Direitos e Outras Legitimidades (Diversitas- LCH, Universidade de São Paulo-USP), São Paulo-SP.
Philip Martin Fearnside, INPA
Coordenação de Pesquisas em Dinâmica Ambiental (CPAM), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)