ResumoA violência na sociedade e a sua representação artística têm sido desde sempre objecto de vibrantes debates. Na criação contemporânea, a violência continua a ser um dos mais insistentes refrãos temáticos motivando trabalhos que fazem confundir a realidade e a ficção, a violência e a sua representação. Este texto coloca em análise um corpus seleccionado de dramaturgia britânica de matriz realista do pós-Segunda Guerra Mundial, um período compreendido entre 1951, data de estreia da peça Saints’s Day, de John Whiting, e 1967, ano de estreia de Dingo, de Charles Wood. São textos reportados a uma geração de dramaturgos que ficaram conhecidos como Angry Young Men e por uma Segunda Vaga de dramaturgos dos anos sessenta que a, seu modo, respondem às profundas alterações na geometria política e social, motivadas, em grande medida, pela Segunda Guerra Mundial. Na análise a que procederei, estudo a maneira como cada obra configura as representações de violência, de acordo com a seguinte tipologia: violência sistémica; violência sobre o corpo; violência verbal; e violência de guerra. Considera-se assim, a representação da violência como um meio para resgatar o teatro da banalização a que muitas vezes é sujeito e, por outro lado, demonstra-se que o teatro se revela particularmente apto a mostrá-la e a conceder-lhe a gravidade necessária ao seu pleno entendimento. Do mesmo modo, revela-se a violência como um traço aglutinador e estruturante para a dramaturgia desse período e propõe-se uma aproximação a um paradigma realista que mostre ser operativo para uma interpelação a algum do teatro contemporâneo.AbstractViolence in society and its artistic portrayal have always been the subject of vigorous debates. In the contemporary arts, violence still predominates as a central theme, giving rise to works that blur the boundaries between reality and fiction, violence and its representation(s). This article analyses a selected corpus of British dramaturgy within the realist tradition, from 1951 to 1967. These are plays by the so-called Angry Young Men and by the Second Wave of playwrights in the sixties, responding ultimately to the profound transformations in political and social geometry caused by the Second World War. The plays are analysed in the light of the way that each work portrays violence accordingly to the following typologies: systemic violence, violence of the body, verbal violence and violence of war. On the one hand, violence is considered to be an efficient way to rescue theatre from the trivialisation it often suffers. On the other hand, theatre is in a particularly privileged position to show violence with all due seriousness. This study considers violence to be a fundamental feature of this period’s dramaturgy and it offers an approach to a realistic paradigm that can be used to address some works of the contemporary theatre.