Este artigo é resultado de uma etnografia baseada na minha experiência como consultor ambiental durante a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Mais especificamente, da minha participação como pesquisador nos Estudos Complementares do Rio Bacajá, os quais, seguindo determinação da Fundação Nacional do Índio, objetivavam o levantamento dos aspectos ecológicos do rio Bacajá, com especial atenção aos modos de vida dos Xikrin da Terra Indígena Trincheira Bacajá, cujas aldeias estão localizadas às margens desse rio. A análise desse campo suscita oportuna reflexão sobre a prática do “indigenismo empresarial”, processo que, segundo Stephen Baines, submete o ordenamento jurídico-administrativo das políticas indigenistas do Estado aos interesses privados de corporações empenhadas na instalação de empreendimentos no interior, através ou nos limites de territórios indígenas. Busco problematizar a estrutura prática do indigenismo empresarial, de forma a explorar como suas regras e princípios tecnocráticos dissimulam a temporalidade destrutiva do capitalismo.