A partir da década de 1990, assiste-se na Amazônia à difusão acelerada de associações de grupos camponeses. Conquanto associações teoricamente representem novos meios de ação coletiva no meio rural e, portanto, uma inovação social, sua formação tem sido em grande parte induzida por políticas e programas de desenvolvimento, especialmente como meio de acesso ao crédito rural. O presente estudo foi feito em 2005, baseado em entrevistas com líderes de quarenta e três associações no nordeste do Estado do Pará. Constatou-se que essa forma jurídica de cooperação, oficialmente privilegiada, tem passado ao largo das formas de organização espontâneas consagradas pela tradição camponesa e baseadas em laços de confiança, fidelidade e co-responsabilidade. As associações estudadas, muitas vezes, resumiam-se a meros grupos formais e a elas cumpria estabelecer ou acompanhar contratos entre instituições financeiras, organizações públicas e privadas e os grupos camponeses. As associações que melhor alcançavam os resultados econômicos, políticos ou culturais almejados eram as que tinham vivenciado, anteriormente a sua constituição, algumas atividades coletivas ou comunitárias, isto é, quando já tinham praticado uma forma de associativismo envolvendo compromisso efetivo entre os membros. Essas contradições, vividas pelas comunidades tradicionais na ocasião de sua inserção no sistema institucional moderno, merecem atenção.
Biografia do Autor
Maria Cristina Maneschy, UFPA
Doutora em SociologiaPrograma de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFPA