Alterar limites e categorias de áreas protegidas é necessariamente ruim? Um estudo de caso em duas unidades de conservação estaduais da Amazônia brasileira

Autores/as

  • Sérgio Borges Universidade Federal do Amazonas
  • Francisco Souza Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP/INPA) e Fórum de Apoio as Comunidades Rurais e Ribeirinhas de Manaus (FOPEC)
  • Marcelo Moreira Fundação Vitória Amazônica (FVA)
  • Yara Camargo

DOI:

https://doi.org/10.5801/ncn.v22i2.3954

Palabras clave:

Áreas Protegidas. Amazônia. Regularização Fundiária. Compatibilidade de Gestão. Políticas Públicas.

Resumen

A revisão de limites e categorias de unidades de conservação têm se tornado comum na Amazônia brasileira. Entretanto, poucos estudos caracterizaram os eventos históricos e os papéis desempenhados por distintos atores regionais nos processos técnicos e políticos associados a estes eventos. Neste estudo foram investigados os eventos históricos subjacentes à reconfiguração de limites e categorias de dois Parques Estaduais no Estado do Amazonas. Foram registrados 56 eventos históricos e identificados 26 atores institucionais relevantes na gestão das duas unidades de conservação. A revisão dos limites e categoria se concretizou no Parque Estadual Rio Negro – Setor Sul. Por outro lado, as demandas sociais pouco estruturadas e um contexto desfavorável na política ambiental do Amazonas impediram a conclusão do processo no Parque Estadual do Rio Negro – Setor Norte. A revisão de limites e categorias pode ser uma estratégia válida de resolução parcial dos conflitos fundiários em unidades de conservação. Propostas desta natureza, no entanto, não devem ser banalizadas, mas baseadas em detalhadas análises técnico-científicas negociadas entre as comunidades locais, gestores e representantes políticos a fim de se evitar prejuízos na proteção da biodiversidade.

Biografía del autor/a

Sérgio Borges, Universidade Federal do Amazonas

O primeiro autor trabalhou durante vinte anos como coordenador científico da Fundação Vitória Amazônica (FVA), uma respeitada organização conservacionista da Amazônia, onde atuou como coordenador técnico de vários planos de manejo de unidades de conservação gerenciadas por órgãos públicos como a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas (SDS), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Colabora com programas de pós graduação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Atualmente é professor adjunto do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) e orientador do programa de Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas (MPGAP) do INPA.

Francisco Souza, Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP/INPA) e Fórum de Apoio as Comunidades Rurais e Ribeirinhas de Manaus (FOPEC)

Francisco Carlos Borges de Souza é liderança comunitária do Rio Negro. Atua em Conselhos Gestores de várias Unidades de Conservação do Baixo Rio Negro. Ajudou no processo de criação e foi o primeiro presidente do Fórum de Apoio as Comunidades Rurais e Ribeirinhas de Manaus (FOPEC). Foi aluno do curso de Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP/INPA) no período de 2015 a 2016.

Marcelo Moreira, Fundação Vitória Amazônica (FVA)

Marcelo Moreira atuou durante mais de 10 anos na Fundação Vitória Amazônica gerenciando a área de geoprocessamento da entidade. Atuou na elaboração de inúmeros planos de manejo de unidades de conservaçào estaduais e federais.

Yara Camargo

Yara Camargo atuou na gestão de áreas protegidas da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas (SDS) onde auxiliou no processo de implementação de unidades de conservação estaduais. Além disso, trabalhou durante vários anos na Fundação Vitória Amazônica atuando na área de articulação política e de gestão de áreas protegidas da entidade.

Citas

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Publicado

2019-09-19

Número

Sección

Artigos