ResumoÀs vinte horas dos dias 14 e 15 de maio de 2004, a Sala de Concertos da Cité de la Musique, em Paris, abriu suas portas para quatro ordens sufis do mundo muçulmano – Murid (do Senegal), Yesevi (do Egito), Kadiri (do Afeganistão) e Chisti-Qawwali (do Paquistão) – uma após a outra, apresentarem seus concertos espirituais. A audição (al-sama) da Nuit Soufie (nome dado ao concerto) terminou, nas duas noites, de madrugada. Através das recitações e cantos poéticos dos Murids do Senegal, das recitações corânicas apresentadas em elaboradas técnicas vocais, pelo Sheikh Ahmad Al-Tûni (do Egito), do círculo de zikr (repetição dos nomes de Deus), liderada por Mir Fakr al-Din Agha (do Afeganistão) e do canto alegre e contagiante dos Qawwâli (do Paquistão), sob a batuta de Asif Ali Khan, os rituais sufis rivalizaram com os “transes” techno da cultura rave atual. Neste texto – que é fruto de uma etnografia de passagem – a autora faz uma reflexão comparativa entre os “transes vertiginosos” produzidos nas pistas rave de dança e os “transes esotéricos” experimentados pelos participantes (“musicantes” e “musicados”) dos e nos concertos ou audições (al-sama) públicos, sufis.AbstractAt eight o’clock on the 14th and 15th of May 2004, the Salle des Concerts of the Cité de la Musique, in Paris, opened its doors to four Sufi orders of the Muslim world – Murid (from Senegal), Yesevi (from Uper Egypt), Kadiri (from Afghanistan) and Chisti-Qawwali (from Pakistan) –, one after another, present their spiritual concerts. The audition (al-sama) of the Sufi Night (the name given to the concert), on the both of the two nights, ended in the small hours. With the recitations and poetic songs of the Murids from Senegal, the Koranic recitations presented in elaborate vocal techniques by Sheikh Ahmad Al-Tûni (from Egypt), the zikr circle (repetition of the names of God), led by Mir Fakr al-Din Agha (from Afghanistan) and the joyful and contagious Qawwali songs (from Pakistan), led by Asif Ali Khan, the Sufi rituals rivaled the profane techno “trances” of modern rave culture. In this text – which is fruit of an ethnography of passage – the author makes a comparative reflexion between the “vertiginous trances” produced on the rave dance floors and the esoteric “trances” or “ecstasies” experienced by the participants (“musicians” and “listeners”) of and in the public Sufi concerts or auditions (al-sama).