O programa Minority Health International Research Training (MHIRT) envia anualmente dois estudantes pertencentes a grupos minoritários e advindos de universidades do Sul dos Estados Unidos para conduzirem pesquisas na área da saúde em cidades brasileiras. As três duplas de estudantes afro-americanos enviadas à cidade de Belém no período de 2013 a 2015, para realizarem pesquisa no laboratório de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), são o foco deste relato etnográfico, que pretende investigar seu estranhamento ante a realidade racial brasileira. A metodologia utilizada neste trabalho é de cunho qualitativo e bibliográfico, baseando-se em entrevistas semiestruturadas e em vivências informais com os estudantes afro-americanos, assim como na literatura acerca das questões levantadas em campo. Dessa forma, são investigados os estranhamentos dos estudantes acerca de sua experiência de moradia no perímetro mais caro de Belém, de sua presença no curso mais embranquecido e elitista da UFPA, de suas socializações na cidade e de suas descobertas sobre as origens da culinária tradicional paraense. A discussão etnográfica levantada pelo trabalho examina as diferenças e similitudes existentes entre as relações raciais do Brasil e dos Estados Unidos, países que, apesar de terem sido fundados pelas mãos de negros africanos escravizados, construíram identidades étnicas e nacionais bem distintas.